Romance de estreia de Ruth Guimarães (1920-2014), uma das primeiras escritoras negras a ganhar destaque na cena literária brasileira, Água funda foi lançado em 1946. Enquanto o escritor mineiro se valia da plasticidade da fala sertaneja para inventar um léxico novo, Ruth Guimarães fez aqui uma original reconstituição etnográfica da linguagem caipira, aproximando-a das pesquisas de Mário de Andrade.
Entrelaçando diferentes tempos e personagens, inseridos no universo de uma comunidade rural na Serra da Mantiqueira, a autora construiu uma prosa ágil e fluida, permeada de ditos populares e causos marcados pela superstição e pelo fatalismo. As histórias de Sinhá Carolina, dona da Fazenda Nossa Senhora dos Olhos d'Água, e do casal Joca e Curiango, trabalhadores locais, se desdobram desde a época da escravidão até os anos 1930. Como afirma o narrador do livro: "A gente passa nesta vida como canoa em água funda. Passa. A água bole um pouco. E depois não fica mais nada."
Esta nova edição de Água funda, que se tornou um clássico da literatura brasileira do século XX, conta com excertos da crítica da época de seu lançamento, incluindo nomes como Brito Broca, Antonio Candido e Alvaro Lins, e uma das primeiras entrevistas de Ruth Guimarães, saudada então como uma revelação de nossas letras. Ruth Guimarães conseguiu criar uma atmosfera rica e envolvente, explorando as nuances da linguagem e da cultura caipira, com um olhar sensível e perspicaz sobre a realidade brasileira.
No cenário literário nacional, Água funda se destaca como uma obra que antecipa em certos aspectos o realismo mágico de autores consagrados como Juan Rulfo e Gabriel García Márquez, revelando a maestria de Ruth Guimarães em tecer uma narrativa que transcende o tempo e o espaço. A obra é um mergulho profundo na alma do interior do Brasil, revelando camadas complexas da identidade e da condição humana.
Com uma escrita envolvente e uma narrativa que mistura passado e presente, memória e fantasia, Água funda convida o leitor a refletir sobre questões universais como destino, liberdade e redenção. A obra permanece como um marco da literatura brasileira, enriquecendo o panorama literário nacional com sua originalidade e força narrativa.
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Data de publicação | 6 de junho de 2018 |
Edição | 1ª |
Editora | Editora 34 |
Formato | Capa comum |
Idioma | Português |
ISBN 10 | 8573267011 |
ISBN 13 | 9788573267013 |
Páginas | 200 |
Qtd. palavras (estimado) | 50.000 |
Tempo de leitura | 6 horas e 40 minutos |